domingo, 9 de outubro de 2011

Entrevista: André Lemos e a Cibercultura no Brasil


Entrevista: André Lemos e a cibercultura no Brasil, por Fabiana Paiva



Pioneiro nos estudos em cibercultura no Brasil, André Lemos é referência no assunto. O professor doutor da Faculdade de Comunicação da UFBA aterrissou em São Paulo semana passada, convidado a abrir o simpósio Cibercultura 2.0. O evento, um dos poucos mas cada vez mais freqüentes na área, aconteceu no Senac de Comunicação e reuniu diversos estudiosos e profissionais para discutir o complexo campo cultural que se formou com as novas tecnologias. Aproveitando sua presença em terras paulistanas e cibernéticas, André Lemos concedeu entrevista virtual à Magnet para falar um pouco mais sobre a realidade da cibercultura no país, como é o mercado de trabalho nacional e o campo de estudos para quem quer seguir essa carreira. André também deu um panorama dos cursos disponíveis atualmente e falou sobre como andam seus próximos trabalhos e as tendências da cibercultura para os próximos anos. 

                                                                                                                               

Magnet - Como você definiria o conceito de cibercultura dentro do que conhecemos por sociedade contemporânea? Podemos dizer que a cibercultura é um conceito estritamente ligado às novas tecnologias e suas influências no modo de vida da sociedade atual, ou representa uma estrutura de valores culturais mais ampla? E a quem ela influencia?

André Lemos -A cibercultura nada mais é do que a cultura contemporânea em sua interface com as novas tecnologias de comunicação e informação, ela está ligada às diversas influências que essas tecnologias exercem sobre as formas de sociabilidade contemporâneas, influenciando o trabalho a educação, o lazer, o comércio, etc. Todas as áreas da cultura contemporânea estão sendo reconfiguradas com a emergência da cibercultura.

M - Em agosto deste ano (numa outra entrevista) você afirmou que o Brasil tem facilidade de atração pelas novas tecnologias. Qual seria a razão? E considerando que o país ainda se encontra na "periferia" desse movimento, apesar da crescente movimentação dos hackers e dos grupos ciberativistas contra a exclusão digital, o que falta na sua opinião para o Brasil entrar de vez na cibercultura?

AL -A sociedade brasileira passou da cultura oral diretamente para a cultura audiovisual e isso interfere na forma como nos relacionamos com os novos produtos midiáticos. O Brasil enfrenta o problema, mundial, de inserção de camadas excluídas da população nas novas tecnologias. Para entrar de vez, precisamos de políticas públicas que garantam o acesso à totalidade da população, o desenvolvimento de softwares e um maior engajamento político através dessas tecnologias.

M - De 1991 (quando iniciou suas pesquisas) para cá, como você vê o desenvolvimento dos estudos e discussões sobre cibercultura no Brasil? E dentro dessa perspectiva, como você avalia a distribuição da produção científica nacional sobre cibercultura, além dos eventos como o Cibercultura 2.0, entre centros como Rio de Janeiro, Bahia, São Paulo e a Região Sul do país?
AL -Os estudos em cibercultura ainda engatinham no Brasil, mas já existem grupos de pesquisa de ponta em várias áreas e em vários Estados do país. Temos ainda trabalhos interessantes em Recife, Porto Alegre.

M - Em quais campos da vida o profissional especializado em cibercultura poderá aplicar seu conhecimento? Onde ele atuaria dentro do mercado de trabalho nacional?

AL -Há várias áreas, desde a estritamente acadêmica até produção multimídia, jornalismo online, webdesigner, gestor de informação, além das ligadas à informática como programadores, analistas de sistemas, entre outras.

M - Você coordena o grupo de pesquisa em cibercultura, o Ciberpesquisa, na Faculdade de Comunicação da UFBA. Como você avalia os espaços acadêmicos em cibercultura no Brasil, em termos de quantidade, distribuição e qualidade curricular, por exemplo? Você indicaria alguns centros ou curso de cibercultura (nacionais ou internacionais) como referência? Quais?

AL -Não há cursos de cibercultura no Brasil, mas cursos que abordam um ou outro aspecto da cibercultura. Temos cursos em hipermídia, jornalismo eletrônico, webdesign, entre outros. O Ciberpesquisa está ligado à pesquisa em cibercultura, que é uma linha do programa de pós-graduação em comunicação da Facom/UFBa. Centros de referência no Brasil são: Ciberpesquisa (UFBa), Virtus (UFPe), Ciberideia (UFRJ). Há, nos programas de pós-graduação em comunicação do Brasil, linhas de pesquisa sobre cibercultura.

M - Quais foram os temas que o inspiraram ao longo de seu trabalho em cibercultura? Atualmente, quais são seus trabalhos na área?

AL -Trabalho com esse tema desde 1991, quando comecei meu doutoramento na França. Tenho tratado de algumas questões importantes para conhecer a cibercultura. Fiz trabalhos e pesquisas sobre sociabilidade online, hipertextos, cyborgs, hackers... Agora estou interessado na relação entre o espaço urbano e a cibercultura. Estou editando um livro sobre esse tema, Cibercidades, que deve sair ainda esse ano ou no começo de 2004.
M - Por fim, o que você apontaria como tendência para o futuro da cibercultura no Brasil, comparativamente às tendências no restante do globo? E qual sua avaliação sobre o surgimento de espaços de discussão como o Cibercultura 2.0?

AL -Espaços de discussão são sempre bem-vindos. Acho que o grande tema atual é o wireless, o wi-fi. A conexão móvel vai alterar práticas e mudar nossa percepção do ciberespaço. Cada vez mais estaremos imersos em um nomadismo que articula o espaço de fluxo com o espaço de lugar.

Fonte: http://informatica.terra.com.br/interna/0,,OI218911-EI553,00.html. Acesso em 09/10/2011


Participantes de postagens:

Eliton Garbo
Ketlen Maria Rezende
Leandro Fernandes de Freitas
Bruna Rossi Luchiari

Vinicius A. Mantovani Nazatto

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